Uma surpresa no Peru

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Não sei se algum dia, vocês já se perguntaram pra quê ir conhecer um lugar que todos conhecem?!
Sempre tive um certo preconceito em relação a lugares cheios, tipo CVC , que tem milhares de pessoas, tem que ficar correndo pra poder conhecer tudo, não dá pra tirar uma foto decente porque sempre tem alguém na frente.
Sim, isso se aplicava a Machu Picchu no Peru.
Qualquer pessoa que eu contei esse meu preconceito fez aquela cara de “oO” e me dizia, “cara, você é maluco. TODO mundo quer conhecer Machu Picchu”. Pois é, eu não tinha muita vontade não. O lugar só chega a pé ou de trem e é mega cheio, pra quê eu vou me enfiar lá?!
Bom, como eu escolho pra onde vou viajar quando não estou trabalhando, não corria o risco de cair naquela cidade perdida.
Pois é, como eu disse, eu escolho pra onde vou quando não estou trabalhando. Adivinha pra onde eu fui mandado nesses últimos 20 dias?!
Primeiro sentimento “cacete, olha a roubada”.
Segundo sentimento “tá, beleza. Vou lá, faço meu trabalho e volto. Sem crise”.
Ultimo sentimento “puta que pariu, quero ir morar lá”.

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Claro, teve alguma coisa que me fez mudar de ideia, mas, o que?!
Cusco é uma cidade incrivelmente apaixonante. A gastronomia é boa, gringos pra tudo quanto é canto, pisco sour de graça (welcome drinks) e boas baladas.
A guia local que acompanhou meu grupo é nascida nas florestas do Peru e fala Quechua (língua local) fluentemente, o que trouxe um valor cultural sem medições a viagem.
O que todo mundo conhece lá, são os sítios arqueológicos próximos a Cusco, como Pisac, Sacsayhuaman, Kenko, Tambomachay e tantos outros.
Mas ai é que veio a minha grande surpresa. A partir do terceiro dia, começamos uma trilha chamada de Salcantay. Uma trilha de 4 dias, que sai de Mollepata e vai até Aguas Calientes andando. Um trekking incrível e duro, com acampamentos as 4.100 metros de altitude e um passo de 4.800 metros de altitude.
O trekking é belíssimo, onde na primeira noite dormimos em Salkantay Pampa, nos pés da montanha sagrada e ao lado da montanha de Humantay. Aliás, montanha essa que tem um lago lindíssimo.
No segundo dia fizemos o passo de 4.800 metros (difícil de respirar e a cabeça doi muito) e fomos até Colca Pampa. Nesse dia, pegamos neve, chuva, graniso, sol e vento em menos de 10 horas de caminhada.
No terceiro dia andamos até Lucmabamba, próximo a Santa Teresa. Nesse lugar tivemos a melhor surpresa de todas, piscinas de águas termais. Nunca havia entrado num treco desses. A água sai quente da montanha e enche piscinas, nos propiciando um banho delicioso (principalmente depois de juntar 2 expedições seguidas).

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

No quarto dias vamos até Águas Calientes andando pelo trilho do trem.
Essa é uma charmosa cidade, base de lançamento para a cidade perdida dos Incas e até as montanhas de Machu Picchu e Huayna Picchu.
Não vou falar muito da cidade perdida, pois todos já conhecem de cor e salteado o que tem por lá.
Depois de contar uma looooonga historia dessas, onde eu queria chegar?!
Queria chegar no momento em que eu digo “paguei minha língua”. Claro, Machu Picchu é tudo que falei no começo desse texto, inclusive, fomos expulsos da cidade no primeiro dia e nós mesmos demos uma de farofeiros, colocando samba dentro do busão que leva pra cidade e levando cerveja, baralho e batatinhas no trem que leva pra Cusco (melhor viagem de trem da minha vida. MUITO melhor que o metrô de São Paulo).
Mas mesmo os destinos mais batidos da face da terra, podem reservar surpresas. Nunca imaginei que fosse chorar ao ver uma montanha nevada e nem tomar banho em termas naturais. Que fosse criar laços com pessoas que conheci durante 10 dias. Nunca pensei que fosse me conhecer, como me conheci nesta viagem.
Pra mim, não foi uma viagem ou uma expedição de trabalho. Foi um auto conhecimento e uma auto valorização de quem eu sou, de quem eu fui e de quem ainda poderei ser. De quem está, de quem esteve e de quem estará ao meu lado. Foi um isolamento de alguns dias e que eu queria algumas pessoas ao meu lado, mas ao mesmo tempo, agradeci por não estarem, assim poderia enviar minhas vibrações a elas.

Lagoa Humantay Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

Lagoa Humantay
Foto: Bruno Poumayrac de Masredon

A moral da história?! Quando você menos espera, a vida de manda pra onde você não quer ir, só pra mostrar que você pode se surpreender.
Portanto, deixe-se surpreender e aproveite ao máximo.

Apu Machu Picchu
Apu Salcantay

Sobre Bruno Poumayrac de Masredon

Montanhista, pedaleiro, malabarista, escoteiro, bartender, vendedor, filósofo de buteco, guia e agora arriscando a escrever. Faço barba, cabelo e bigode. Lavo, passo e arrumo. Só não vou pra praia.
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12 respostas para Uma surpresa no Peru

  1. Letícia disse:

    “Nunca imaginei que fosse chorar ao ver uma montanha nevada e nem tomar banho em termas naturais.” Posso chorar lendo seu post, louca de vontade de conhecer Machu Picchu?? Meu sonho!! Deve ter uma energia tão gostosa *-*

  2. Rafael Nunezz disse:

    Sensacional. Creio eu que sintetiza todo o sentimento do grupo que participou dessa aventura incrível. Confesso que ainda estou meio atordoado, com a cabeça lá…
    Acho que a pergunta que vc tanto fez durante a viagem, ” pra que?” , pode ser respondida agora por cada um de nós.
    abração

  3. Nossa o emprego dessa pessoa deve levar ele para lugares tão chatos… que tristeza! E tem gente por aí que queria que o trabalho lhe desse mais viagens… Mas voltando à ‘mensagem’ é muito válida e verdadeira, gostei do jeito que foi contada e fico feliz com essas surpresas, já aconteceu comigo também, que também tenho certas aversões a lugares TÃO clichês kkk

  4. Carlos Alberto Padua disse:

    Muito legal Bruno! Fico feliz de ter participado dessa viagem tão brilhantemente relatada por vc. Concordo com todas as suas palavras. Para mim foi mais do que turismo, foi uma experiência de vida incrível! Parabéns pelo texto!

  5. brunomasredon disse:

    Fico muito feliz em ler os comentários.
    É bom saber que gostaram do texto e melhor ainda saber que quem caminhou ao meu lado nesta expedição, sentiu o mesmo que eu.
    Abraços a todos!

  6. brunomasredon disse:

    Fico feliz em saber que gostaram do texto 😀
    E fico feliz também em saber que não fui o único que ficou com esse sentimento e com um certo “arrependimento” de ter voltado tão cedo!

  7. Francisco disse:

    Tienes una de las fotos más bellas que he visto de Macchu Picchu y del nevado, es sinceramente hermoso! felicitaciones, gran blog! saludos desde Lima 😉

  8. Karina disse:

    Arrasou nas fotos!
    Adorei o post. =)

  9. Karina Yumi disse:

    Adorei as fotos!
    Belo post! =)

  10. Pingback: Dicas de site para viajar… literalmente! | Sem Balela

  11. Liz Carvalho disse:

    Adorei o post!
    Senti o mesmo quando todo mundo me falava sobre a cidade sagrada mas no meu caso, a surpresa se deu pela emoção de subir Huayana Picchu. Ver tudo de cima, tocar nas nuvens… Liberdade!

  12. Oi Bruno, como vc se organizou pra fazer a viagem? Alguma empresa de viagens especifica?

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